segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Carta Para Sophia,


Sophia,
Sinto muito, por todas as coisas que eu deixei de fazer.
Me perdoe por não ter permitido que você me amasse.
Imaginamos com o tempo que tudo se resolve, que tudo não passou de um mal entendido. 
Porém, no silêncio da alma, vemos que não há como negar que tudo não passa de uma ilusão. Nada passou, nada se esqueceu...
E eu mais uma vez te peço perdão por ter partido seu coração, te peço perdão por ter permitido você me magoar.
E mais uma vez nós dois ficamos do lado de fora, olhando nossas brigas, nos magoando, nos ferindo e nos negando.
Ficamos vendo do lado de fora de nós mesmos as nossas infantilidades, acreditando que cada um estava certo em sua própria verdade.
Hoje vejo tão claramente que bastava uma palavra para que tudo tivesse sido diferente. Mas eu não te chamei.
Sinto profundamente por todas as coisas que eu fiz, mas principalmente aquelas que não fiz com você. Sinto por não ter te chamado, gritado por você. Na verdade a gente acaba acreditando que o tempo cura tudo e que temos toda uma vida pela frente. 
E pela milionésima vez eu deixo de te chamar e deixo de te dizer que sinto muito.
Esqueci do som da sua voz e o gosto da sua boca já não existe mais. 
Espero que esteja bem, espero que somente eu esteja vivendo fora de mim e que todas as coisas que eu te fiz estejam onde devem estar. 
Me perdoe mais uma vez.

Do seu Sven


Márcia Hany


Uma carta...


Sven...
Como vai você? Estive pensando e relembrando de como eu era. 
Lembro-me de como era livre, livre de todo e qualquer pensamento ruim.
E eu era jovem, e como todo jovem me dei o direito de errar. 
Você também era tão jovem, e era jovem demais para acertar.
E com o tempo nos magoamos, esquecemos de pedir perdão e ficamos olhando do lado de fora,  um magoar ao outro tão profundamente que não havia volta.

Eu de manhã não via mais o sol, não havia mais o brilho e nem aquela chuva morna que caía em nossos rostos apareceu mais.
Com o tempo a cicatriz cobre a mágoa, mas as lembranças são fortes e mesmo não querendo compreendo que seus defeitos eram perfeitos para mim.
Não há segredos, apenas aqueles que nunca dissemos , apenas aqueles que nunca fizemos e a sensação terrível de que falta uma página em nossas vidas.
E eu amanheço mais um dia, amanheço mais uma vez no vazio de mim mesma vendo do outro lado de mim as imperfeições dos dias que vivi sem você!

Com Amor Sophia


Márcia Hany


Minha Gatinha


Vinte e Oito Anos de Espera.

Sven olhou pelo vidro da janela enquanto a neve caia, passou a mão no vidro em círculos e recostou a cabeça na  vidraça e a luz da rua fazia com que os flocos de neve que caíam brilhassem feito diamantes caindo do céu. Como era linda a neve, pensou ele. 

Continuou parado ali  por alguns minutos até que sentiu um arrepio de frio.

Amanhã será Natal, murmurou. O ano passou tão depressa que nem percebi. Fiz tantas coisas e ao mesmo tempo tenho a sensação de que não fiz nada . Suspirou.

Vinte e oito anos que não tenho notícias dela. Estremeceu.

Abraçou o próprio corpo tentando se aquecer esfregando as mãos nos braços. Caminhou em direção ao telefone que ficava numa mesinha ao lado da janela, puxou a poltrona e sentou-se.

Discou os vários números, esperou por alguns instantes e desligou, depois de tantos anos, talvez esse número nem exista ou deve pertencer a outra pessoa.

Já tinha perdido a conta de quantas vezes ele havia feito isso. Sentiu um imenso vazio, olhou novamente para o telefone e discou.

Dessa vez ele não desligou, e uma voz de menina moça atende do outro lado. Seu coração batia descompassadamente, suas mãos suavam e sentiu o frio na barriga gelar todo o seu corpo.Tentou falar, mas não conseguiu.

Alô! Alô! Tem alguém aí? Alô!

Sem resposta, Sophia  desliga o telefone e reclama. Caramba, essa gente não tem o que fazer!

Fazia muito tempo que Sven não ouvia a voz de Sophia e havia passado mais um ano. Um ano de desencontro e saudade. Ele coloca o telefone no lugar, recosta na poltrona, olha para a janela, fecha os olhos e se lembra de Sophia.

Teimosa demais, linda do seu jeito peralta, cabelos pretos, olhos negros que mais pareciam duas jabuticabas, tinha a boca pequena bem desenhada que faziam um conjunto perfeito. Seus cabelos presos, deixavam a vista os pequenos brincos quase imperceptíveis. Um aroma almiscarado exalava do seu corpo e Sven pôde sentir o calor do corpo de Sophia  junto ao seu. Como assim, perguntou-se.

Abriu os olhos e o aroma de almiscar tomou conta da sala onde ele estava e de repente tudo passou a não ter sentido sem ela. Olhou para fora  e a neve continuava a cair. Sven pela primeira vez na vida não sabia o que fazer.

 

Do outro lado, Sophia preparava seu café, pegou uma xícara e levou até a janela. A neve caía, linda e silenciosa. Tomou um gole do café e ouviu o telefone tocar, correu para atender, mas ninguém falava. Desligou o telefone e voltou para a janela, ja deveria ter se acostumado com a neve, porém, era sempre como se estivesse vendo pela primeira vez. O telefone toca novamente e ela atende, outra vez não se ouve nada, ela se aborrece e desliga. Neste momento um aroma de almiscar fica no ar. Ela procura entender de onde vem o perfume, pois fazia muito tempo que ela não sentia.

Murmurou. Sven, por onde você anda? 

Sophia fecha os olhos  para trazer Sven para perto dela, vai aos poucos relembrando dos detalhes e seu rosto vai tomando  forma. Sven com cabelos negros, encaracolados, olhos castanhos escuros, pele morena. Um sorriso enebriante, cativante. Sua voz a tranquilizava e  seus braços eram o abrigo onde ela adorava ficar. Sua boca era bonita e dela ela só ouvia, minha gatinha! Amanhã será Natal, pensou ela.

Olhou para o relógio, era quase meia-noite. Fechou os olhos e desejou seu presente de Natal. Desejou com todas as forças e com toda a pureza de um amor sem fim, eu quero muito reencontrar o Sven.

 

 

De onde vem esse cheiro? Perguntava Sven. Nem me lembrava mais desse perfume.

Sven olha para o relogio no braço direito, é meia-noite. Sei que ja estou bem crescido para acreditar em Papai Noel, mas creio que exista uma força maior e que tudo podeE então desejou,  eu quero muito reencontrar Sophia.

 

Ambos adormeceram num sono regado a saudade.

Na manhã de Natal, Sophia acorda atordoada com o coração vazio. O pedido foi feito, mas o Papai Noel pelo jeito não passou por aqui.  Riu de si . Ora veja.....

 

Sven acorda com os gritos das crianças brincando na neve. É Natal, pensou ele. E o meu presente?

Entristecido, arruma-se para sair. Só ele mesmo pra ir trabalhar no dia de Natal. 

 

Vou perder meu vôo se me atrasar mais um pouco. Sophia precisava viajar para acertar uns contratos. Talvez nem tenha vôos, pensou ela. Mas alguém precisa trabalhar.

 

Sven chega ao serviço, estaciona o carro, sai apressadamente, tropeçando nos próprios pés. O dia caminha calmo, apesar da confusão. Quando neva o aeroporto geralmente vira um caos.

 

Sophia  aterriza às nove horas da noite, o aeroporto lotado...gente que vai e vem.  Começa a nevar mais forte e todos os vôos são cancelados. Ela para em frente ao portão de desembarque e sente o cheiro de almiscar, olha para um lado e para o outro e pensa que está enlouquecendo. Então lembra do pedido de Natal e as lágrimas se formam no cantos dos olhos.

Enquanto a lágrima cai, uma mão toca seu ombro e o cheiro de almiscar fica ainda mais forte. Ela se volta e não acredita no que seus olhos vêem. As palavras não saem, mas o silêncio já diz tudo. Sven estava a sua frente, seus olhos marejados, não escondiam a emoção. As lágrimas rolavam, era impossível contê-las. 

- Você é meu presente de Natal! Disse Sven.

- Eu pedi você de presente , disse Sophia.

Sven se aproxima de Sophia abraçando-a, beijando sua boca. Sussurrando  ao seu ouvido.

- Feliz Natal, minha gatinha!

 

Márcia Hany